domingo, março 05, 2006
Ingenuidade ou ignorância?
É fato indiscutível que, de umas décadas para cá, os cadernos culturais dos veículos impressos caíram no quesito qualitativo. A superficialidade pareceu tomar conta, encurtando os textos e dotando-os de um caráter consumista desenfreado. Trata-se de uma política editorial atualmente convencionada.
Se a área administrativa de um jornal ou revista resolve fazer uma contenção de despesas, busca-se sempre cortar os investimentos das seções consideradas “secundárias”, e os cadernos culturais entram nessa classificação. Ironicamente, mesmo vivendo um período de crise, o jornalismo cultural ainda é uma das editorias mais lidas dos veículos impressos, sobretudo entre os leitores jovens.
A maior conseqüência de ser considerado uma seção “secundária” e sofrer constantes cortes de investimento é a qualidade do material publicado. O espaço do texto é cada vez menor, a política só preza pela venda do que é divulgado, e não se cria no leitor uma consciência crítica e interpretativa acerca da cultura como um todo. Falta profundidade, espaço e toques de relevância.
No meio jornalístico, o tratamento dado à seção cultural provém de uma outra convenção baseada no senso comum: a de que o jornalista cultural só precisa emitir opiniões sobre música, cinema, literatura, e nada mais. É o profissional que não precisa se enveredar em longas investigações, em entrevistas maçantes e assuntos que fogem ao seu interesse. Tudo isso não passa de um ledo engano. Para tratar a cultura com autoridade, assim como em qualquer outra área, é fundamental o exercício da pesquisa, o aprimoramento das percepções artísticas e o contato direto e constante com a área que é, a todo o momento, contaminada e encharcada de novas tendências, parâmetros e modelos. Uma responsabilidade que começa desde o extremo da atualização profissional constante até o cume de proporcionar ao leitor condições para ter uma consciência crítica sobre o assunto tratado.
Os veículos impressos, no entanto, deixam escapar a originalidade da seção, considerando-a irrelevante, mesmo sabendo que é uma das mais lidas pelos leitores. São raras as publicações que buscam o altar antes concedido à editoria cultural e, às vezes, quando o fazem, extrapolam a medida do correto e caem na linguagem erudita, dificilmente compreendida.
*Foto retirada do blog Atuleirus.