quarta-feira, maio 24, 2006

 

TERÇA-FREELA



TÉDIO E MONOTONIA EM UMA TARDE SEM GRAÇA
Thiago Soares


Cheguei em casa com uma única coisa na cabeça: Precisava escrever um texto engraçado. A princípio parecia uma coisa simples a se fazer, minhas recordações nostálgicas me lembravam de grandes momentos durante a quinta ou quarta série que fazia hilários textos sobre girafas e suas casas nas árvores. O problema dessa vez é que a narrativa engraçada precisava ser em primeiro lugar um fato real e em segundo lugar precisa ter sido algo que aconteceu comigo.

Pensei por longos três segundos para me decidir qual das milhões de histórias engraçadas que já vivi eu poderia narrar naquele texto que já começava a me tirar a paciência, e logo cheguei a uma conclusão. Nunca algo engraçado ocorreu na minha vida. Fiquei um pouco surpreso com a conclusão que cheguei, e resolvi confirmar pensando por mais um segundo se era verdade. Mais uma vez estava lá, nunca algo engraçado havia ocorrido em minha vida. Foi uma sensação melancólica perceber que minha vida toda foi apenas a mesma monotonia sem graça, me senti um pouco vazio e por mais alguns segundos entrei em depressão profunda. Na verdade até pensei em me matar durante esses segundos mais logo me distraí enquanto observava atentamente o meu gato defecar e acabei me esquecendo da história de suicídio e depressão.

Quando o gato parou de defecar e eu parei de rir, voltei a pensar em algo que poderia ser engraçado para colocar em minha narrativa, como na havia acontecido na minha vida resolvi tentar enganar a professora e roubar a história engraçada de alguém. Um lugar onde pensei poder achar boas e engraçadas histórias foi a televisão. Impressionante como é ruim a programação da tarde na televisão brasileira hoje, nas varias opções de canais que tenho em casa (deve ser uns quatro ou cinco) eu encontrei uma mulher vendendo objetos por preços absurdos, mas logo cheguei a conclusão de aquilo não era engraçado o suficiente, tinha também uma novela bem velha onde os atores hoje já “tiozões” consagrados pela televisão como eternos galãs, na época se submetiam a papeis insignificantes para poder aparecer na novela.

Aquilo até era legal, mas não era nada muito engraçado o suficiente pra fazer uma narrativa. Em outro canal cheguei a encontrar uma história interessante, era uma mulher que estava no quinto casamento chorando por ter sido abandonada mais uma vez pelo seu marido, enquanto contava sua trágica história a apresentadora se comovia e os telespectadores choravam, confesso que quase chorei, mas me segurei e voltei a trocar de canal, no último canal era apenas um monte de vinhetas sem sentido.
Ta, a televisão não deu certo, mesmo porque a única coisa engraçada que se passa na televisão hoje em dia são aqueles clássicos filmes pornôs que passam nas madrugadas do final de semana. Minha última opção era a internet, eu precisava achar algo na internet que me fizesse ter grandes idéias para uma narrativa engraçada, eletrizante. Passei horas na internet procurando algo que me trouxesse idéias mirabolantes para uma boa narrativa e o máximo que achei foi uma velha reportagem dizendo que um anão vestido de palhaço havia matado oito pessoas, mas deduzi que nunca a professora iria acreditar que eu fosse anão, ou que algum amigo meu havia matado oito pessoas.

Só havia uma solução então, e foi o que eu fiz. Abandonei a idéia de escrever e passei o resto da tarde dormindo.


*Thiago Soares é estudante do 1º ano de jornalismo



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