sexta-feira, abril 14, 2006
ANDRÉ SAMPAIO - "Quando exerço engenharia tento esconder que sou músico"
Engenheiro florestal que coordenou o censo das árvores de Maringá ainda encontra tempo para música e salas de aula
André Cesar Furlaneto Sampaio conhece bem a arte de conciliar. A começar pela quantidade de funções que desempenha no cotidiano: engenheiro florestal, professor universitário, músico, marido e pai – de Lara, 11 meses. Nada mal para quem tem apenas 26 anos e um currículo de respeito. André Sampaio, ou Deco, como é conhecido no meio musical, leciona no curso de pós-graduação em Planejamento Ambiental no Centro Universitário de Maringá (Cesumar), é graduado em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), especialista em Engenharia e Gestão Ambiental pelo Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e atualmente coordena o “Projeto Árvore” – atividade que ficou conhecida como “censo das árvores” de Maringá.
Esse virginiano nascido em Londrina (município distante 100 km), mas trazido para Maringá ainda recém-nascido, recentemente gravou o primeiro CD, “Maquiagem Social” , em que canta e toca violão. Com todas essas atividades ainda encontrou tempo para conceder entrevista ao Conexo e explicou como consegue conciliar tantas funções. Contou também que no meio técnico existe preconceito em relação ao artista e confidenciou: “quando estou exercendo engenharia florestal tento esconder que sou músico”. Como coordenador do “Projeto Árvore”, ele expôs os principais problemas de arborização encontrados em Maringá e o que o governo tem feito para solucioná-los. Confira alguns trechos da entrevista que terminou agradavelmente ao som da música “Maquiagem social”. Pena o Conexo não ser interativo.
O que é o “Projeto Árvore?"
A gente fez um inventário [de 2004 a 2006] de cerca de 90% das árvores da cidade, deu mais de 90 mil. Em cada árvore, a gente colocou um RG e foi elaborado um software. Então, você busca a árvore pela rua, pelo endereço, e descobre a espécie e todos os problemas que se encontram lá. Foram mais de 36 dados coletados por árvore. Isso foi finalizado e passado para a prefeitura, porque é a prefeitura que tem o poder de gerenciamento da arborização.
Existe no Brasil algo semelhante ao “Projeto Árvore”?
Existem outros censos de árvores, com uma metodologia um pouco diferente. Mas não conheço, pelo menos no Brasil, nenhuma cidade de mais de 200 mil habitantes que tenha feito um censo. Conheço cidades pequenas, de 30 ou 40 mil habitantes, mas no porte de Maringá, que tem mais de 300 mil habitantes, desconheço. Eu acho que Maringá é realmente uma cidade pioneira nesse tipo de inventário florestal urbano.
Em que situação as árvores de Maringá se encontravam?
A gente viu bastante cupim, cancro, injúrias mecânicas [de agressões a podas mal feitas], problemas de déficit hídrico, mas acho que o principal problema se concentra no fato de que cerca de 50% da cidade é constituída pela sibipiruna. Essa espécie foi uma das pioneiras da cidade, a maioria das árvores tem entre 30 e 40 anos, que para o meio ambiente urbano é considerada uma idade avançada. Isso favorece a disseminação de pragas. Não que a sibipiruna seja uma espécie maléfica para o meio ambiente ou para a cidade; é uma espécie que funciona até bem para a arborização urbana, porém, o fato de 50% da cidade ter apenas essa espécie é o que causa o desfavorecimento. O meio ambiente urbano não foi feito para colocar árvore. A gente coloca árvore aqui porque é nosso interesse melhorar a qualidade de vida, mas o ambiente dela é a floresta. [Lá] Uma árvore vive 200, 300 anos, e algumas espécies [vivem] 500 anos e até mais, para você ver a diferença.
Quais transtornos essas árvores doentes podem causar à população?
Se a árvore estiver extremamente doente, ou tiver cupim de raiz, existe o risco de queda. É difícil a verificação do cupim de raiz. Às vezes a árvore está parecendo sadia, mas está com suas raízes consumidas, o equilíbrio da árvore está prejudicado. Bate um vento, tem um temporal, a árvore cai. Pode cair em cima de uma pessoa, sobre um carro, pode danificar a fiação elétrica, cortando a luz, isso tudo vai prejudicar a população. Outra coisa é que ter muitas árvores doentes na cidade quer dizer que algum dia elas vão ter de ser retiradas dali. Isso vai diminuir o número de árvores e para uma muda adquirir o tamanho que aquela árvore tinha, para renovar aquele equilíbrio, vai demorar um tempo. Se Maringá é uma cidade que faz muito calor com as árvores, imagina sem? Uma árvore transpira mais de 300 litros por dia de água, ou seja, está produzindo nuvens, chuva.
E qual é a solução para esses problemas?
A solução é fazer um planejamento, porque o que se tem hoje nem sei se pode ser chamado de planejamento. Segue algumas regras básicas da arborização urbana, mas não tem um plano diretor, um embasamento científico atualizado. Mas agora existem os dados do projeto [Árvore] e com isso dá para fazer com que uma equipe multidisciplinar lá na prefeitura consiga gerenciar de forma mais adequada a arborização porque, por enquanto, há um planejamento ineficaz.
O que o governo tem de fazer ou está fazendo?
O secretário do Meio Ambiente José Croce [Filho] está se mostrando muito interessado nos dados que o “Projeto Árvore” coletou, porque esses dados vão facilitar o planejamento da arborização. Mas para trabalhar com isso, ela [a prefeitura] tem de ter uma infra-estrutura melhor, ter mais funcionários. Por exemplo, Maringá tem um engenheiro florestal e um técnico agrícola para fazer todas as verificações de árvores doentes e pedidos e, se eu não me engano, são mais de cem pedidos por mês de corte. Um funcionário para fazer toda a arborização de Maringá é pouco. O poder público tem de começar a gastar mais dinheiro com isso para que a qualidade da arborização melhore e, assim, a qualidade de vida de Maringá continue sendo boa.
Você é professor universitário, engenheiro florestal e ainda é músico. Como você concilia isso tudo?
Tem hora que é até complicado, porque existe certo preconceito com músico, o pessoal sempre acha que músico é mais vagal [risos]. Então, quando eu estou exercendo engenharia florestal eu tento esconder que sou músico, mas consigo administrar bem. Hoje em dia as pessoas estão descobrindo as três faces [ele também é professor], mas estou levando bem.
Já aconteceu alguma situação constrangedora por causa desse preconceito?
Algumas. Como é uma profissão artística, associa-se a arte ao agradável, mas qualquer profissão pode ser agradável quando você gosta de fazer. Realmente, quando eu estava exercendo o cargo de engenheiro florestal, já mencionei algumas vezes que eu sou músico e isso pesou. Você ouve algumas piadinhas: “ah, músico também?”. Parece que a pessoa que tem mais de uma função é porque não exerce bem uma, ou, então, exerce duas porque quer quebrar um pouco o trauma [de uma escolha profissional errada], mas não é isso. Músico geralmente é visto como um cara que não estuda ou que não trabalha e os músicos que eu conheço são as pessoas que mais trabalham e que mais estudam, [mais] do que qualquer pessoa que eu conheci no mestrado ou em faculdades - mas os bons músicos, porque existem os maus músicos e são esses que acabam deteriorando a profissão.
Como surgiu esse interesse pela música?
Acho que na hora que eu nasci [risos]. É difícil ter uma pessoa que não goste de música. Que eu me lembre, desde sempre eu gostei. Agora, interesse em tocar, em estar fazendo música, acho que surgiu aos dez, 12 anos de idade, aí que eu comecei a ter interesse. Primeiro fui obrigado a entrar numa aula de teclado que eu não gostava muito, mas isso me deu uma ligação com a música. Daí acabei migrando para o violão que eu acabei gostando mais e, aí sim, fui evoluindo. Já fiz parte de uma banda de rock dos anos 60 e outra que tocava de tudo.
Mas as músicas do seu CD não seguem a linha rock and rol. O que o levou a mudar?
Sempre gostei muito de rock, principalmente o mais antigo, Rolling Stones, Beatles, só que as músicas que eu fazia acabavam não se encaixando. Apesar de ouvir muito isso, minhas músicas se encaixam mais com MPB, uma coisa mais suave. Nesse CD a gente priorizou a forma acústica, peguei todas as minhas composições que migravam para esse lado e elaborei o CD. Na verdade, pode-se dizer que faz mais de dez anos que está sendo desenvolvido para chegar ao que é hoje, porque o CD foi basicamente feito por mim e pelo meu irmão, que é músico lá em São Paulo. Ele podia vir para Maringá esporadicamente, assim a gente foi gravando, de pouquinho.
E você encara a música principalmente como lazer ou profissão?
Eu gostaria de ver como profissão, só que por enquanto eu vejo como lazer, porque não é ela que me sustenta. Para você ganhar a vida com música, tem de ser uma vida muito sofrida, então é complicado. Mas eu gostaria, claro, de ganhar mais dinheiro com isso e até poder sobreviver só de música, mas por enquanto é impossível.
André Cesar Furlaneto Sampaio conhece bem a arte de conciliar. A começar pela quantidade de funções que desempenha no cotidiano: engenheiro florestal, professor universitário, músico, marido e pai – de Lara, 11 meses. Nada mal para quem tem apenas 26 anos e um currículo de respeito. André Sampaio, ou Deco, como é conhecido no meio musical, leciona no curso de pós-graduação em Planejamento Ambiental no Centro Universitário de Maringá (Cesumar), é graduado em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), especialista em Engenharia e Gestão Ambiental pelo Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e atualmente coordena o “Projeto Árvore” – atividade que ficou conhecida como “censo das árvores” de Maringá.
Esse virginiano nascido em Londrina (município distante 100 km), mas trazido para Maringá ainda recém-nascido, recentemente gravou o primeiro CD, “Maquiagem Social” , em que canta e toca violão. Com todas essas atividades ainda encontrou tempo para conceder entrevista ao Conexo e explicou como consegue conciliar tantas funções. Contou também que no meio técnico existe preconceito em relação ao artista e confidenciou: “quando estou exercendo engenharia florestal tento esconder que sou músico”. Como coordenador do “Projeto Árvore”, ele expôs os principais problemas de arborização encontrados em Maringá e o que o governo tem feito para solucioná-los. Confira alguns trechos da entrevista que terminou agradavelmente ao som da música “Maquiagem social”. Pena o Conexo não ser interativo.
O que é o “Projeto Árvore?"
A gente fez um inventário [de 2004 a 2006] de cerca de 90% das árvores da cidade, deu mais de 90 mil. Em cada árvore, a gente colocou um RG e foi elaborado um software. Então, você busca a árvore pela rua, pelo endereço, e descobre a espécie e todos os problemas que se encontram lá. Foram mais de 36 dados coletados por árvore. Isso foi finalizado e passado para a prefeitura, porque é a prefeitura que tem o poder de gerenciamento da arborização.
Existe no Brasil algo semelhante ao “Projeto Árvore”?
Existem outros censos de árvores, com uma metodologia um pouco diferente. Mas não conheço, pelo menos no Brasil, nenhuma cidade de mais de 200 mil habitantes que tenha feito um censo. Conheço cidades pequenas, de 30 ou 40 mil habitantes, mas no porte de Maringá, que tem mais de 300 mil habitantes, desconheço. Eu acho que Maringá é realmente uma cidade pioneira nesse tipo de inventário florestal urbano.
Em que situação as árvores de Maringá se encontravam?
A gente viu bastante cupim, cancro, injúrias mecânicas [de agressões a podas mal feitas], problemas de déficit hídrico, mas acho que o principal problema se concentra no fato de que cerca de 50% da cidade é constituída pela sibipiruna. Essa espécie foi uma das pioneiras da cidade, a maioria das árvores tem entre 30 e 40 anos, que para o meio ambiente urbano é considerada uma idade avançada. Isso favorece a disseminação de pragas. Não que a sibipiruna seja uma espécie maléfica para o meio ambiente ou para a cidade; é uma espécie que funciona até bem para a arborização urbana, porém, o fato de 50% da cidade ter apenas essa espécie é o que causa o desfavorecimento. O meio ambiente urbano não foi feito para colocar árvore. A gente coloca árvore aqui porque é nosso interesse melhorar a qualidade de vida, mas o ambiente dela é a floresta. [Lá] Uma árvore vive 200, 300 anos, e algumas espécies [vivem] 500 anos e até mais, para você ver a diferença.
Quais transtornos essas árvores doentes podem causar à população?
Se a árvore estiver extremamente doente, ou tiver cupim de raiz, existe o risco de queda. É difícil a verificação do cupim de raiz. Às vezes a árvore está parecendo sadia, mas está com suas raízes consumidas, o equilíbrio da árvore está prejudicado. Bate um vento, tem um temporal, a árvore cai. Pode cair em cima de uma pessoa, sobre um carro, pode danificar a fiação elétrica, cortando a luz, isso tudo vai prejudicar a população. Outra coisa é que ter muitas árvores doentes na cidade quer dizer que algum dia elas vão ter de ser retiradas dali. Isso vai diminuir o número de árvores e para uma muda adquirir o tamanho que aquela árvore tinha, para renovar aquele equilíbrio, vai demorar um tempo. Se Maringá é uma cidade que faz muito calor com as árvores, imagina sem? Uma árvore transpira mais de 300 litros por dia de água, ou seja, está produzindo nuvens, chuva.
E qual é a solução para esses problemas?
A solução é fazer um planejamento, porque o que se tem hoje nem sei se pode ser chamado de planejamento. Segue algumas regras básicas da arborização urbana, mas não tem um plano diretor, um embasamento científico atualizado. Mas agora existem os dados do projeto [Árvore] e com isso dá para fazer com que uma equipe multidisciplinar lá na prefeitura consiga gerenciar de forma mais adequada a arborização porque, por enquanto, há um planejamento ineficaz.
O que o governo tem de fazer ou está fazendo?
O secretário do Meio Ambiente José Croce [Filho] está se mostrando muito interessado nos dados que o “Projeto Árvore” coletou, porque esses dados vão facilitar o planejamento da arborização. Mas para trabalhar com isso, ela [a prefeitura] tem de ter uma infra-estrutura melhor, ter mais funcionários. Por exemplo, Maringá tem um engenheiro florestal e um técnico agrícola para fazer todas as verificações de árvores doentes e pedidos e, se eu não me engano, são mais de cem pedidos por mês de corte. Um funcionário para fazer toda a arborização de Maringá é pouco. O poder público tem de começar a gastar mais dinheiro com isso para que a qualidade da arborização melhore e, assim, a qualidade de vida de Maringá continue sendo boa.
Você é professor universitário, engenheiro florestal e ainda é músico. Como você concilia isso tudo?
Tem hora que é até complicado, porque existe certo preconceito com músico, o pessoal sempre acha que músico é mais vagal [risos]. Então, quando eu estou exercendo engenharia florestal eu tento esconder que sou músico, mas consigo administrar bem. Hoje em dia as pessoas estão descobrindo as três faces [ele também é professor], mas estou levando bem.
Já aconteceu alguma situação constrangedora por causa desse preconceito?
Algumas. Como é uma profissão artística, associa-se a arte ao agradável, mas qualquer profissão pode ser agradável quando você gosta de fazer. Realmente, quando eu estava exercendo o cargo de engenheiro florestal, já mencionei algumas vezes que eu sou músico e isso pesou. Você ouve algumas piadinhas: “ah, músico também?”. Parece que a pessoa que tem mais de uma função é porque não exerce bem uma, ou, então, exerce duas porque quer quebrar um pouco o trauma [de uma escolha profissional errada], mas não é isso. Músico geralmente é visto como um cara que não estuda ou que não trabalha e os músicos que eu conheço são as pessoas que mais trabalham e que mais estudam, [mais] do que qualquer pessoa que eu conheci no mestrado ou em faculdades - mas os bons músicos, porque existem os maus músicos e são esses que acabam deteriorando a profissão.
Como surgiu esse interesse pela música?
Acho que na hora que eu nasci [risos]. É difícil ter uma pessoa que não goste de música. Que eu me lembre, desde sempre eu gostei. Agora, interesse em tocar, em estar fazendo música, acho que surgiu aos dez, 12 anos de idade, aí que eu comecei a ter interesse. Primeiro fui obrigado a entrar numa aula de teclado que eu não gostava muito, mas isso me deu uma ligação com a música. Daí acabei migrando para o violão que eu acabei gostando mais e, aí sim, fui evoluindo. Já fiz parte de uma banda de rock dos anos 60 e outra que tocava de tudo.
Mas as músicas do seu CD não seguem a linha rock and rol. O que o levou a mudar?
Sempre gostei muito de rock, principalmente o mais antigo, Rolling Stones, Beatles, só que as músicas que eu fazia acabavam não se encaixando. Apesar de ouvir muito isso, minhas músicas se encaixam mais com MPB, uma coisa mais suave. Nesse CD a gente priorizou a forma acústica, peguei todas as minhas composições que migravam para esse lado e elaborei o CD. Na verdade, pode-se dizer que faz mais de dez anos que está sendo desenvolvido para chegar ao que é hoje, porque o CD foi basicamente feito por mim e pelo meu irmão, que é músico lá em São Paulo. Ele podia vir para Maringá esporadicamente, assim a gente foi gravando, de pouquinho.
E você encara a música principalmente como lazer ou profissão?
Eu gostaria de ver como profissão, só que por enquanto eu vejo como lazer, porque não é ela que me sustenta. Para você ganhar a vida com música, tem de ser uma vida muito sofrida, então é complicado. Mas eu gostaria, claro, de ganhar mais dinheiro com isso e até poder sobreviver só de música, mas por enquanto é impossível.
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