domingo, março 19, 2006

 

O abismo preocupa

Durante o processo de aprendizagem dos estudantes, a maior preocupação dos educadores se restringe aos conteúdos curriculares, de acordo com a pedagoga e mestra em psicologia social e da personalidade Rosimara Saraiva Carvalho. Desde o ensino fundamental até o curso de graduação, os currículos escolares e universitários priorizam quase que exclusivamente a formação racional. O fato relega a segundo plano o desenvolvimento das consciências social, cidadã e ética, de acordo com a pedagoga. Alguns estudiosos defendem a prática do método da pedagogia do amor para reduzir o abismo existente entre alunos e professores e para incentivar a formação humana dos alunos.

Em entrevista ao site do governo estadual do estado da Bahia, o secretário da educação de São Paulo, Gabriel Chalita, defendeu a posição de que a educação deve, mais do que qualquer outra coisa, “ensinar valores essenciais para a vida”, e não se ater somente è educação no aspecto cognitivo. Chalita é um defensor da pedagogia do amor, método que visa à criação de laços afetivos entre alunos e professores, com resultados diretos da formação humana dos estudantes. Segundo o secretário, “o amor é capaz de originar inúmeras virtudes, qualidades e emoções que dignificam a vida e compõem a base de uma existência fundamentada no que há de mais puro e fraternal”.

Rosimara afirma que existe uma contradição evidente no processo educacional brasileiro: prega-se que a escola é uma extensão da casa dos alunos, um segundo lar, mas a relação entre professores e estudantes não possui caráter familiar. Para ela, falta carinho, afeto e atenção por parte dos educadores, o que pode resultar no fracasso escolar dos estudantes. “A maioria das pessoas vê a escola como um local chato, com regras estabelecidas, conteúdos defasados, professores sem didática e sem preparo emocional”. Já na universidade, falta desenvolver o senso ético e cidadão
dos futuros profissionais, de acordo com a pedagoga.

Ela incentiva o vínculo afetivo entre as partes, mas de modo profissional e não ocasional, como parece prever a pedagogia do amor. Ressalta que, mais do que adotar um método, é necessária a reestruturação do ensino, para que os papéis dos educadores, dos estudantes e das famílias sejam redefinidos. “A escola não é um segundo lar e nem é a continuação da nossa casa”, afirma. A pedagoga questiona ainda a formação dos profissionais da educação, incentivando que estes precisam repensar a prática docente, saber lidar com os conflitos de sala de aula e ter equilíbrio emocional. “Tem dias que o aluno não consegue ser ouvido em casa e quer ser ouvido em algum lugar. Eu, enquanto professora, tenho que ter uma olhar diagnóstico pra saber o dia que o aluno não está bem e tentar saber o porquê”.

Já o pedagogo Vicente Martins, em artigo publicado na Revista Espaço Acadêmico em setembro de 2001, ressalta a importância de alguns aspectos da pedagogia do amor no aprendizado dos estudantes. Para o estudioso, o método possui dois princípios de grande importância: “o respeito à liberdade e o apreço à tolerância, que são inspirados nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana”. Martins afirma ainda que a metodologia tem como objetivo “o pleno desenvolvimento do educando, o preparo para o exercício da cidadania ativa e a qualificação para as novas ocupações no mundo do trabalho”. A pedagogia do amor prioriza e estimula os conhecimentos éticos dos estudantes em sintonia com os problemas do mundo presente.

Rosimara enfatiza que a solução dos problemas de relacionamento e aprendizado dentro de sala de aula vai muito além da adoção de uma pedagogia que exalta o amor. Ela revela que, hoje em dia, a própria família da criança chega para os educadores e expressa o desespero de não saber lidar com a educação da criança ou jovem. Nesse ponto, a equipe de professores deve ser profissional e buscar soluções que tenham vínculo com a afetividade.

Embora as opiniões sejam, em alguns pontos, divergentes, existem exemplos bem sucedidos de aplicação do método da pedagogia do amor. Em Maringá, a ONG Lar Escola adota os preceitos da metodologia para atender quase 200 crianças carentes no contraturno das aulas escolares. Lá, as crianças aprendem diversas atividades, evitando assim que se envolvam com a criminalidade.

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