Saiu na Época da semana passada, uma entrevista com a mestra em filosofia e doutora em sociologia, Ana Liési Thurler, que falou sobre sua tese de doutorado: Paternidade e Deserção – Crianças sem reconhecimento, Maternidades Penalizadas pelo Sexismo. Em suas pesquisas, ela descobriu que 30% das crianças brasileiras não têm reconhecimento paterno. A raiz do problema, segundo a socióloga, está na falta de acessos a métodos contraceptivos e a proibição do aborto. Disse também que os homens não se sentem obrigados a assumir filhos gerados em relações informais. Uma das soluções para este problema, apontada por ela, seria a legalização do aborto, dando às mulheres o direito de decidir seguir ou não com a gravidez.

Mas será que a preocupação de garantir o nome do pai nas certidões de nascimento, não é muito restrita? Segundo o IBGE, duas em cada três crianças nascem fora dos casamentos formais. A legalização do aborto, aparentemente, poderia mudar este quadro pois menos crianças nasceriam sem pais; porém, isso não significa que mais pais assumiriam os filhos, estes somente deixariam de nascer, apresentando apenas soluções estatísticas. Na verdade, o problema exposto pela socióloga, não passa da ponta do iceberg e a legalização do aborto seria como tentar esconder o problema maior. O que precisa ser mudado é a mentalidade das pessoas, tanto de homens, quanto de mulheres.

As relações informais são cada vez mais freqüentes, pessoas que se conheceram há menos de 2 horas conseguem manter relações sexuais com a maior naturalidade. O grande problema consiste no fato que, ao longo dos anos, não somente a mulher foi banalizada, mas o ser humano e as relações humanas como um todo. A busca incessante e desenfreada pelo prazer individual, usando o outro apenas como objeto de satisfação, transformou os sentimentos em instintos e o “fazer amor” em mero “sexo mercenário”.


*Foto meramente ilustrativa de divulgação