domingo, junho 19, 2005

 

"Don't ask, don't tell"


Foto de Sarah Ribeiro

A união civil entre dois militares homossexuais no Canadá, no mês passado, levantou uma discussão sobre as políticas de tolerância e aceitabilidade a respeito desse assunto em muitos países. Alguns destes, como o Canadá e a Espanha, já possuem políticas claras que permitem a união civil entre homens e entre mulheres e, inclusive, o direito de revelar a opção sexual ao ingressar nas forças armadas, que, independente de qual for, não banirá a pessoa de seguir a carreira militar. Trata-se, portanto, de políticas mais liberais.

O que me chamou a atenção foi à política de “tolerância” que é aplicada nos Estados Unidos (e que, ao meu ver, não se restringe aos EUA, apenas). Lá, o homossexual só é aceito e respeitado na sociedade a partir do momento em ele não revela qual é a sua opção sexual. É a política do “não pergunte, não diga”, que se baseia numa falsa tolerância e que alimenta ainda mais o processo sociológico do preconceito, uma vez que, para se protegerem, as pessoas precisam se “esconder”.

A política da falsa tolerância, no entanto, não se aplica apenas a essa temática, e esta é a reflexão que eu proponho. Se pensarmos por um instante, veremos que a “não pergunte, não diga” está presente nos outros modos de descriminação, sustentando um processo cíclico que gera os mais variados tipos de preconceito, que vão desde o homossexualismo até a xenofobia. As pessoas que compõe pequenos grupos de características diferentes das da grande maioria em uma sociedade tendem a sofrer atos coercitivos, que se alternam em agressões físicas e psicológicas, esta última com maior vigor.

Hábitos, etnias, vícios e partidarismos são assuntos da hostilidade social. O padrão é categórico, e os que não se adaptam a tais exigências estão condenados a um denominador comum: o preconceito. O processo é divisório e revela uma fratura social. E por que é que essa política de falsa tolerância atua com tanto afinco atualmente, se somos racionais? De nada vale a racionalidade, se ela é usada em proveito do inútil, no que diz respeito ao preconceito. A solução já é por muito tempo sabida e, no entanto, ainda não foi aplicada com o vigor que restabeleceria as fraturas da sociedade. O respeito, no sentido literal da palavra, sempre foi a solução para os males advindos das diferenças culturais e opcionais, e, no entanto, ainda permanece como sendo a política da utopia. Até que esta se consolide, o que eu não acredito que seja logo, o mundo continuará a se digladiar por questões ridículas.

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