domingo, novembro 06, 2005

 

A lamuria da imprensa de qualidade

O jornalismo – e, em especial o jornalismo investigativo – passa por uma crise considerável nas redações brasileiras. Essa realidade que assola a profissão foi sabiamente discutida pelo jornalista Diego Escosteguy, repórter da sucursal brasiliense da Revista Época, no artigo intitulado “Encruzilhada”, pulicado no livro “Jornalismo Investigativo” (Editora Contexto), de autoria do também jornalista Leandro Fortes.

Segundo Escosteguy, a crise financeira nas redações jornalísticas é um dos fatores que mais pesam na visível decadência qualitativa do jornalismo brasileiro. As empresas, incompetentes o suficiente em lidar com a falta de dinheiro, têm caminhado para o abismo, a partir do momento que passaram a demitir jornalistas de primeira linha e investir muito menos em reportagens interessantes, criativas e, acima de tudo, importantes para o bem público. Nessa esfera, o jornalismo investigativo vai para o espaço, é descartado de imediato nas redações, pois se trata de uma atividade que exige mais tempo, mais pessoas, mais recursos (viagens, hospedagens, equipamentos, transportes, etc.) e, é claro, (muito) mais dinheiro. Isto atemoriza os proprietários de empresas jornalísticas. Temor este que tem refletido, inclusive, na credibilidade da profissão, tendendo a cair ainda mais.

Para se ter uma visão mais ampla da queda de qualidade dos veículos, basta analisar, mesmo que superficialmente, o que foi o jornalismo no início da década de 90 e hoje, 15 anos depois. Foi durante o governo Collor (1990-1992) que o espírito investigativo do cânone caso Watergate tomou conta das redações e dos profissionais jornalistas no Brasil. Todos se sentiam inspirados em buscar, investigar e expor à sociedade os desmandos do governo Collor. Foi mediante essa iniciativa e tendência que por aqui pairou que Collor foi deposto. As acusações devidamente comprovadas feitas pelo emergente jornalismo investigativo brasileiro desestabilizaram a tal ponto o governo da época que o então presidente sofreu o impeachment.

Atualmente, aquilo que foi, outrora, um emergente jornalismo investigativo deixou de ter o mesmo caráter e passou a ser substituído por matérias e reportagens comportamentais e praticamente sem utilidade pública nas páginas de todos os jornais e revistas do país.

Lamentável.

Comments: Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?