terça-feira, junho 21, 2005
De olho na pirataria
Foto de Ane Carolina
Combate à pirataria é a palavra de ordem no momento! Várias campanhas têm sido feitas pelo governo com o auxílio da mídia que, quase diariamente, passa matérias sobre o assunto, além de ter uma equipe nas principais fronteiras e divisas do Brasil. Até na novela “Malhação” o tema já está sendo abordado! O que, entretanto, passa despercebido para a maioria das pessoas é que apenas uma visão unitária é mostrada: a do governo.
Saiu, no último dia 16 de junho, no folha on-line, que o governo estadunidense está preocupado com a pirataria do Brasil pois, segundo uma pesquisa,“a compra de roupas, tênis, brinquedos e óculos pirateados desviam R$ 9 bilhões por ano dos cofres públicos [brasileiros]”, o que afeta o lucro das empresas multinacionais americanas instaladas aqui.
Se ao menos tivéssemos certeza que esses R$ 9 bilhões seriam utilizados em benefício do povo brasileiro, através da saúde e educação por exemplo, o quadro seria diferente. Sabe-se, porém que grande parte deste dinheiro é desviado dos cofres públicos para contas em paraísos fiscais (além de termos que ouvir do presidente da Câmara dos deputados, Severino Calvalcanti, que nós brasileiros não nos importamos que o salário dos deputados aumente de R$ 12.000,00 para R$ 22.000,00), enquanto a outra parte do dinheiro vai para as mãos do presidente estadunidense e suas multinacionais. E nós, brasileiros continuamos com analfabetos e famílias passando fome...
Não acredito que a pirataria seja a melhor solução, mas no contexto de pobreza e corrupção em que vivemos, parece-nos mais lógico permitir que esse dinheiro chegue às mãos de brasileiros, através da geração de empregos informais, do que desviado, como ocorre. Não adianta querer acabar ou reduzir a pirataria e não resolver os problemas sociais que a desencadearam, é como tapar o sol com a peneira. Por que ao eliminar milhares de empregos informais, não dar a estes um emprego legal? Por que não tentar resolver o problema por completo ao invés de destruir apenas a ponta do iceberg? Talvez seja uma tentativa de esconder o problema, não sei. O fato é que, com ou sem ponta, o iceberg continua lá, podendo causar estragos ainda maiores.
Sei que meu discurso pode, para alguns, parecer nacionalista demais, porém prefiro encarar de uma outra forma e pensar que se nós, brasileiros, não pensarmos em nosso país e buscarmos o melhor para o nosso povo, ninguém o fará. Os demais países, em especial os Estados Unidos, estão interessados apenas nos tesouros que possuímos e em infiltrar em nossas mentes sua cultura enlatada, assim como aconteceu com nossos índios na época da colonização, mudam os personagens, mas a história é a mesma.
Somos uma nova geração de índios que, de tão colonizados, não temos mais cultura, não temos mais raciocínio, não temos mais caráter, não temos mais nada.
Foto de Sarah Ribeiro