domingo, dezembro 25, 2005

 

Relevância sensacionalista

Com objetivo contrário ao da agenda-setting que predomina na data de hoje, irei tratar de um assunto sério e preocupante no jornalismo brasileiro: Desde quando o fato de algum artista ser bissexual ou homossexual se tornou tão relevante para o público leitor, a ponto de sair estampado na capa da própria revista, com destaque máximo?

Para quem ainda não sabe ou não teve a oportunidade de ver a capa da Revista Veja de duas semanas atrás, o veículo estampou diretamente na capa a revelação da cantora Ana Carolina sobre o fato de ela ser bissexual. Essa era a reportagem mais importante de toda revista, que foi originada a partir de uma entrevista concedida pela própria cantora. Para os mais ingênuos, a atitude da Veja pode até figurar como uma tentativa de naturalizar ainda mais a aceitação ao público gay existente no país, o que de certa forma se efetua. Mas eles pareceram não se dar conta da relevância que deram à intimidade particular de uma cantora, com direito a holofote e tudo mais, desviando do propósito direto do jornalismo e partindo para o sensacionalismo descarado.

A reportagem em si foi muito bem escrita, traz dados bastante interessantes sobre o público GLS (Gays, lésbicas e simpatizantes) no Brasil, além de provar através de depoimentos de especialistas sobre como a sexualidade já não é mais um tabu para o jovem brasileiro. Mas isso não justifica estampar o rosto de Ana Carolina na capa da revista, com a afirmação “Sou bi, e daí?”. A sexualidade dela, embora ela queira assumir, não diz respeito a ninguém. Ninguém terá sua vida transformada por realizar que uma das mais queridas cantoras da MPB é bissexual. Isso não é notícia digna de ser a mais importante de uma revista em um país onde há tantos outros problemas a serem denunciados. Nunca foi! Essa atitude coloca a cantora numa roda-viva de comentários (benéficos e maléficos), que não gera nenhum efeito sobre nenhum habitante desse país, a não ser à própria Ana Carolina.

Nessa edição, a Veja não se diferenciou um pouco sequer das revistas que tratam de novelas, artistas e fofocas.

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