domingo, outubro 16, 2005

 

O padrão da ética desonesta

As pessoas não conhecem a realidade. Poucos têm o privilégio de conhecê-la no termo amplo de um fato, jornalisticamente falando. A culpa para a alienação proposta e resultante dessa condição não é do leitor, do telespectador, ou do ouvinte. De modo algum. A mídia, com seus preceitos e “projetos” supostamente calcados na ética, é quem estabelece qual a realidade que vamos conhecer e, por incrível que pareça, contrariando a própria ética exaltada nos tais “projetos midiáticos”, os meios de comunicação querem que sua audiência patine na grossa camada de gelo do irreal, isentando-a de ações de protesto.

Perso Abramo, que foi jornalista e sociólogo, falecido em 1996, é quem defende essas idéias. Os interesses que revelam a verdadeira face dos proprietários dos meios de comunicação é que comandam e ditam as regras do que é ou não publicável ou transmissível. O que é veiculado na mídia é a realidade para todos aqueles que têm acesso a ela, mesmo que a tal realidade seja calcada no irreal, no não-acontecido. A manipulação está presente nos textos da mídia, a audiência engana-se em seu julgamento, em favor dos interesses dos proprietários dos meios.

A manipulação confere várias formas para a constituição de uma “realidade irreal”, segundo Abramo. A omissão de informações nos textos da mídia, por exemplo, não atribui à notícia o caráter verdadeiro do fato, assim como a fragmentação de suas composições (na estrutura lead-sublide-complemento), que não estabelecem reflexões sobre as notícias publicadas ou transmitidas, isentando a audiência do desenvolvimento de uma consciência crítica acerca dos fatos. Além destes, ainda há a descontextualização do fato em si, sem o devido aprofundamento exigido para a reflexão do evento, e a maior preocupação com a forma dos textos de mídia do que necessariamente com seu conteúdo. Para Abramo, este é o principal perfil dos meios de comunicação no Brasil, que adquiriram um status de poderio. A maior preocupação dos meios é justamente manter esse poder nas mãos daqueles que comandam atualmente.

Não é o lucro, não é o amor e muito menos a benevolência que regem o jornalismo. É o poder e a intenção de mantê-lo exatamente onde está que dita as regras da comunicação social contemporânea. A população não tem voz, exceto raras exceções, e delas faz-se o conceito literal do conformismo, para que permaneçam subalternas em suas posições sociais.

Eis os padrões de manipulação na grande imprensa.

Comments:
E pensar que, ironicamente, a imprensa é mais livres nos meios públicos... :P
 
Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?