terça-feira, agosto 02, 2005
Contrastes urbanos...
Maringá às vezes me surpreende. É difícil, mas acontece. Pude ver em um mesmo final de semana realidades totalmente diferentes; não estavam juntas ao mesmo tempo, mas dividiam a mesma praça. Uma das realidades presenciei no sábado à noite e como todo mundo que espera alguma coisa de um sábado à noite, eu esperava apenas passear com meu namorado pelas ruas da cidade mais segura do país e comer um lanche do fast-food mais cobiçado pelos jovens.
No entanto, ao colocar os pés fora de casa pude notar que naquela noite eu poderia encontraria tudo, menos sossego. Bares e restaurantes cheios, ruas abarrotadas de playboys com seus carros do tipo “pega-patricinha”, com direito à luzinha de et embaixo do carro e “cornomusic” sertaneja no último volume. Quase um show pirotécnico ao vivo. Quando entrei no fast-food deparei-me com dezenas de jovens pertencentes à classe alta, alguns assumiam sua identidade burguesa de ser, outros tentavam esconder o que realmente eram por trás de correntes na calça, palavrões e chicletes que deviam estar há pelo menos umas 5 horas na boca. E em meio a tudo isso, estava eu ali, sentada, descansando da caminhada que fiz para economizar o dinheiro da passagem.
Mas o que realmente me chamou a atenção foi o contraste do dia seguinte, quando passei pela praça da Catedral, bem perto da lanchonete em que estava na noite anterior, e me deparei com um palco, uma música de batida e letra fortes e várias pessoas de bicicleta, skate, ou a pé mesmo. Um cenário totalmente diferente. Se sábado jantava com a elite, domingo almoçava com os chamados “excluídos da sociedade”. E para surpresa de muitos, que acreditam que só porque uma pessoa é pobre não possui senso crítico, a letra de uma das músicas falava de CPI e Marcos Valério.
Finalmente Maringá, que tenta esconder tanto seus lados negativos, sua pobreza inevitável, revelou o que realmente possui, mostrou seus contrastes. E no meio de tanta ilusão e fantasia a que estou habituada a ver normalmente aqui, pude ver um pouco de realidade e ouvir músicas que para a maioria das pessoas são consideradas fortes e violentas, mas que para eles apenas representa o contexto social em que estão inseridos. Demonstraram através da música, quase totalmente depreciada em Maringá, que o dinheiro não tona ninguém consciente e que, muitas vezes, a vivência ensina muito mais do que livros. Que apesar de não possuírem muita instrução, tem conhecimento maior do que muitos universitários que preferem se preocupar na roupa que fulana está usando do que na realidade do país ou no abismo social presente logo ali, no bairro ao lado.
*Foto trabalhada por Sarah Ribeiro