domingo, agosto 07, 2005

 

O Curriculum Vitae pós-moderno

O site dinarmaquês de relacionamentos “Beautiful People” prepara sua chegada ao Brasil e, ao mesmo tempo, sustenta um estigma social: a demasiada valorização da beleza como elemento de maior importância da pessoa em si.

Este é um site onde apenas pessoas consideradas “bonitas” podem ingressar e ter um perfil online. Para tanto, os interessados devem se inscrever e enviar, juntamente do formulário na Internet, uma fotografia de rosto. Os “avaliadores” do site irão, então, julgar se a pessoa é bonita o suficiente para integrar aquela comunidade.

A grande questão que reside por trás de todo este processo --- o de valorização magnânima da beleza --- é a determinação com a qual as pessoas julgam o que é ou não belo. Iniciativas como o do site “Beautiful People” mantém tal estigma de modo imperativo na sociedade, assim como todos os outros meios de comunicação, que valorizam a imagem como fator determinante e excludente.

Uma pessoa, por exemplo, pode não se encaixar nos padrões de beleza que são difundidos por aí, mas possuir um senso singular de responsabilidade e competência para se aplicar em um emprego qualquer. Se neste emprego a pessoa terá de aparecer em público ou entrar em contato físico direto com outras pessoas, suas chances de ser admitida na seleção dos candidatos à vaga se restringem pela pessoa não estar de acordo com as “leis de beleza” pregadas pela sociedade. A concorrência é ainda mais desleal quando há, no processo de seleção, qualquer outra pessoa que seja “bela”, mas que não tenha tamanha responsabilidade e determinação como a primeira que citei, que acaba sendo dispensada em benefício da concorrente provida de “beleza”. Torna-se inevitável o questionamento: Por que? O que realmente é importante em um emprego: beleza ou competência?

É lógico que isso ainda não se aplica genericamente a todas as exigências sociais, mas trata-se de uma conseqüência direta da cultura imagética que se desenvolveu, principalmente, após a década de 50 com o advento e popularização da televisão, segundo o sociólogo Edgar Morin. Um processo excludente em potencial, que gera uma das maiores fraturas sociais hoje existentes, delimitando um precipício entre aqueles que são excessivamente “bonitos” e aqueles “desprovidos de beleza”.

Comments:
oiiii
ti
posso estar errada mas o correto não seria:

Torna-se inevitável o questionamento: Por quê?

ao invés de

Torna-se inevitável o questionamento: Por que?

que é o modo que vc colocou??

beijos
fer
 
Essa questão da excessiva valorização da beleza na sociedade é muito delicada. Além dos motivos que o Thiago citou, outro um pouco menos importante, mas válido de ser citado, é a padronização da beleza. Ou seja, se você não se encaixa nas medidas estabelecidas pelo "mundo da moda", é, no mínimo, cafona. Um exemplo clássico disto é o silicone nos seios. Nem mesmo os poucos contrários à essa cirurgia que já se tornou mania entre a mulherada, como eu, são suficientes pra colocar na cabeça das moças que seios médios e naturais são infinitamente mais bonitos que dois melões de gelatina.

Questão de gosto...
 
Um ponto que gostaria de colocar: tenho muito medo da frase "boa aparência". Geralmente, ela é usada em contextos discriminatórios de condição social e, principalmente, raça. Não raro, à época que trabalhava em uma agência de empregos, as empresas nos solicitavam pessoas de boa aparência. Belo eufemismo, pois não queriam negras ou japonesas ou gordas...
Não conheço o "beautiful people" mas, por todas essas razões, fico com receio a priori.
Forte Abraço!
 
Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?