terça-feira, junho 07, 2005

 

"A verdade anda trôpega pelas praças"


Anna Paula Lomas
(Na foto, Delis Ortiz respondendo às perguntas feitas pelo auditório e lidas pela coordenadora do curso de Comunicação Social do Cesumar, Astrid Façanha)


Fascinados. Foi assim que centenas de futuros jornalistas ficaram, ao ouvir a voz aveludada, mansa, porém firme, da repórter global Delis Ortiz, que interagia com o público do 1º dia do 2º Simpósio Maringaense de Jornalismo, com frases pausadas, palavras claras, acessíveis e falava de uma realidade que, para alguns, soou com tom de pessimismo. Mas o fascínio não estava aí. Estava no fato de Ortiz não poupar suas críticas que, apesar de tocarem fundo na ferida, possuíam um ar tão leve e sutil que nem os próprios criticados conseguiam se sentir ofendidos. Uma artista!
Suas palavras tinham um tom de conversa, como de uma mãe preocupada com o futuro de seus filhos, que procura alertá-los para o que irão encontrar fora de casa, na vida adulta. A “repórter-mãe” começa então falando sobre sonhos, como o de ser jornalista, e que eles precisam ser cultivados como sementes; porém, estas podem ser boas ou deformadas, e seus frutos geram, como ela denominou, profissionais sacerdotes ou marginais – que, infelizmente, são os mais comuns. Mas Ortiz propõe aos futuros e aos já formadores de opinião um desafio: viver a serviço e sacrifício do outro, como numa eterna missão social, pois é assim a vida de um sacerdote, que se entrega de corpo e alma ao que acredita e dá o melhor de si. Quantos jornalistas seriam capazes de cumprir à risca sua função, levar a informação ao outro da forma mais pura possível e viver em função de pessoas que nunca se viu? Difícil, não? Pois é a isso que ela nos desafia.
Delis nos alerta também para o 4º Poder – que para alguns, normalmente os de semente marginal, soa como glamour – que esconde o mal e o bem nas entrelinhas, que pode provocar uma guerra ou construir uma nação, alienar ou informar. Relatividades... no atual presente, nada é certo, tudo é relativo, relativo aos interesses de quem detêm o poder, seja econômico ou ideológico, e aos poucos vamos perdendo nosso senso crítico, nos acomodando com verdades impostas por pessoas que acreditam ser semi-deuses, mas não passam de frutos podres de suas sementes ruins. Ortiz diz que vivemos na era do “tem, mas acabou”, do “é mas não é” e que isso se aplica também aos jornalistas, que são genéricos de tantas coisas e especialistas em quase nenhuma.
Essas palavras vieram a calhar, principalmente para um auditório repleto de jornalistas e pré-jornalistas, que costumam se excluir da massa alienada, como se tivessem um senso crítico inalterável e não se deixassem enganar. No entanto, muitos jornalistas tem sido enganados pelo próprio poder, que alguns adoram esbanjar. São semi-ignorantes que acreditam ser brilhantes e superiores à massa, julgando serem quase imunes aos efeitos apáticos causados principalmente pela mídia televisiva. Desta forma, a cobra morde o próprio rabo e experimenta do veneno. Volto agora com uma indagação feita por Ortiz: “Você sabe o que você come? Você sabe se é comida ou veneno?” a verdade é que não sabemos. E novamente voltamos às verdades relativas que cada vez são mais difíceis de distinguir e mais parciais, que pregam que o rótulo é mais importante que o conteúdo e que se obtêm mais liberdade ao ligar para votar entre duas opções pré-definidas, do que dizer o que se pensa e lutar pelo que acredita. Não se sabe mais nem responder á pergunta: “Quem sou eu?” prefere-se aceitar o “eu” ditado e bem aceito pela maioria, do que realmente descobrir e, quem sabe, sair dos padrões.
Delis Ortiz finaliza dizendo que para haver uma relação íntima do jornalista com a verdade, é necessário que este primeiro descubra a verdade sobre si, mesmo que esta esteja sempre mudando. Eu busco a cada dia descobrir quem sou eu e responder a mim mesma da forma mais sincera possível, tornando claro meus limites, meus defeitos e qualidades, tornando possível transmitir uma imagem transparente, real e não apenas uma parcial e positiva, como alguns tem feito não somente consigo mesmos mas em proporções do tamanho de uma cidade. E você, sabe definir quem é ?


Além de Delis Ortiz, o repórter da Revista Veja, Marcelo Carneiro, falou sobre o dia-a-dia do jornalismo investigativo de revista e o simpático e falante apresentador do Fantástico Zeca Camargo, que contou sobre suas experiências, principalmente sobre sua volta ao mundo. Foi uma noite e tanto!

Comments:
Oiiiiiii...
Só vim através deste parabenizar meus amigos, integrantes deste blog de notícias, por mais uma "matéria" maravilhosa! Sei que sou suspeita para elogios, mas essa publicação ficou ótima...
Mais uma vez... PARABÉNS Sarah!
Beijos...
 
Realmente deve ter sido uma noite e tanto, uma verdadeira aula... principalmente se a Delis Ortiz tiver tido tanta paixão e desenvoltura em sua palestra como podemos ver nesse texto.. muito bem redigido, diga-se de passagem.
É bom ter um veículo como cobrindo o evento de forma diferenciada. Parabéns.
 
È...Realmente a palestra da jornalista Denis Ortiz, foi muito boa. Adorei a ironia, e o cinismo que ela uso quando se referia aos políticos...Eu adorei ver os Barros (Silvio e Ricardo), bem constrangidos...
Sarah parabéns adorei muito o seu texto. Apesar deu adorar seu lado ironico....(cadê você neste texto?).Beijocas Caroline Rocha
 
Ah! Anna parabéns pela fotografia...Sinal que o Boni está ensinando muito bem...Há, há, há...
Beijos
Carol
 
Então... já que o espaço é democrático, é a minha vez.
ODIEI a palestra da Delis Ortiz. Mas odiei de verdade.
Existem duas possibilidades: eu ter levantado tão com o pé esquerdo quanto ela na segunda-feira e estar disposta a odiar meio mundo e a palestra ter sido ruim, porque a gente sempre espera mais quando o nome é conhecido.
Acredito que a segunda seja mais provável. E é, realmente, um problema. Porque quando uma Delis Ortiz vai proferir uma palestra, as pessoas vão ouvir a Delis, não importa o que ela vai dizer, mas se uma Bruna Ribeiro vai falar para tantos alunos, eles vão de acordo com o conteúdo proposto e serão muito mais críticos com o que será falado.
Continuo acreditando nessa hipótese, porque a palestra da mocinha da CBN, ontem, me surpreendeu. A mulher deu dicas importantíssimas de rádio e não se preocupou em desestimular ninguém. Apenas disse: é assim que se faz. Se você acha que não dá conta, muda de rumo, sem stress!!!

Pessoas, adorei o blog! Voltarei mais vezes!
 
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(ops, apaguei sem querer meu comentário... ainda bem q tinha copiado ele.. hehehe, bom, aih vai..)

Então Bruna, concordo com você até certo ponto. Concordo que as pessoas, muitas vezes se impressionam com o "rótulo", como a Delis mesmo disse, das pessoas e acabam não exercendo muito o seu senso crítico. No entanto, não foi o que aconteceu comigo, porque eu realmente gostei das coisas que ela disse, da forma como ela criticou e acho que poucos teriam a coragem e a capacidade de dizer certas coisas com tanta sutileza. Confesso que entrei na palestra dela esperando uma palestra monótona sobre política - assunto que, particularmente, não me atrai muito - e saí de lá fascinada.
Mas gostei muito de você ter exposto sua opinião, é esse um dos objetivos do blog, permitir que as pessoas mostrem suas opiniões, independentemente de serem ou não iguais!
Espero que comente sempre no nosso site, pois é com essas discussões saudáveis que aprendemos.
Um beijo!
 
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